Olá!
Continuando a colocar em pratica o que aprendo com o Podcast
Gente que Escreve, e cumprindo o Desafio do Ep. 006 segue o texto incorporando
as palavras Janela e chuveiro com tema livre.
Estou com dificuldade para escolher o titulo, mas o texto
segue:
Telefone toca. Depois de tudo é surpreendente que a energia e
telefone fixo ainda funcionem. No segundo toque Alex atende.
– Alô.
– Oi Alex.
– Oi vó. Tudo bem – Alex percebe a inutilidade da pergunta
quase que imediatamente. Mas não consegui evitar o costume. Sua avó não
responde. Após um breve silencio a conversa segue.
– Já terminou os preparativos?
– Já sim.
– O que você conseguiu?
– Algumas garrafas de água, Sardinha e Atum empatado. Achei
também dois pacotes de farofa pronta. Na casa da dona Édina tinha umas frutas e
um Panetone.
– Isso não é muito.
– Vão durar uns dias – Mais uma pausa. O suspiro pesado da
Avó fez Alex continuar – Na casa da dona Édina também achei um fação e uma
enxada. E peguei aquela machadinha na garagem.
– Não leva a enxada, e pesada, desajeitada; não da pra usar.
– Tirei a lamina, vou levar só a madeira. É de boa
qualidade. Não vai quebrar fácil com o impacto.
Mais um silêncio incômodo.
– Quando você pretende sair? – Por fim a Avó fala.
– Amanhã, assim que o sol nascer.
– Como você vai?
– De bicicleta. Eu vou…
– Como assim? – A avó interrompe – Eles vão atrás de
barulho! Assim que você mexer naquelas… coisinhas; irá atrai-los pra você!
– Calma vó, eu tirei as marchas; as coisas que fazem
barulho. A bicicleta está bem silenciosa, ontem dei uma volta no quarteirão
para testar. – O silencio novamente. Passado alguns momentos. Sem mais objeções
da avó Alex continua – Bem, vou sair daqui quando amanhecer. Vou até o
Barreiro, ver se acho algum supermercado ou farmácia que ainda não foi roubado…
– “Foram” e “saqueados” – Diz a avó. Ele continua:
– Que ainda não “foram saqueados” – sua voz soou mais sarcástica do que pretendia mas continua – Depois vou pela Tereza
Cristina até a Avenida Amazonas…
– Será que não é melhor passar por alguma rota alternativa,
menos populosa?
– Já pensei nisso. Não tem. Como a internet caiu não posso
pesquisar rotas alternativas. Acho que é melhor ficar por onde conheço. Posso
me perder e acabar preso em algum beco sem saída…
– Tem razão, continua repassando o plano. – Alex é
interrompido mais uma vez. Sabendo da natureza objetiva da avó ele prossegue:
– Bem… eh; vou chegar na avenida Amazonas e ver o movimento.
Se estiver muito cheio vou continuar na Tereza Cristina até a via expressa.
Dependendo do horário vou ver se continuo ou acho algum abrigo…
– É melhor achar um lugar para descansar. Vai ser mais fácil
lacrar um quarto no bairro o que uma loja mais no centro.
– Verdade. – Alex responde em tom conciliatório. Nunca
adiantou discutir com a avó. E nem considerava fazer isso devido às
circunstancias; apenas prosseguiu – Depois vou fazer o possível para chegar na
estação Central…
– Não acho que o Metrô esteja funcionado Alex. E mesmo se
estiver é barulhento. Vai atrai-los!
– Eu sei vó! Já disse isso. Eu vou seguir os trilhos do
trem… Bem, primeiro vou procurar água e comida. Depois vou seguir os trilhos do
trem. Vou até a estação Dois Irmãos. Fica perto de Barão de Cocais. De lá vou
para Cocais.
– Ótimo.
Um breve silencio.
– Vô, como está o pessoal aí?
– Tudo bem, seu tio esta consertando o chuveiro. E suas tias
fazendo o jantar. Só a Samanta que está meio triste.
– Ela ainda esta esperando?
– Ela não sai da janela, foi a única aluna que ficou na
escola. – um breve suspiro desanimado – Ninguém veio por ela. – E mais uma vez o silencio se instala. Depois a
Avô continua. – Agora Alex, confira que as portas e janelas estão bem
trancadas, dorme um pouco que amanhã será um longo dia! Quando estiver andando
não se esqueça de ser o mais silencioso possível especialmente na cidade, e não
confie em ninguém! Beba água, mas lembre-se que tem que economizar ao máximo.
Assim como com a comida.
Mas um silêncio. Este dura mais que os outros.
– Vô; dá pra mim ir praí…
Outro silencio. Seguido por uma voz estranhamente animada do
outro lado da linha:
– Alex, não precisa. A comunidade sempre se apoia. Os
Traficantes e a milícia finalmente estão se dando bem. Estão defendendo o alto
do morro. E mesmo que tudo em volta esteja tomado, munição é o que não falta
pra eles. E também estou ajudando a Matilde controlando os mantimentos que
conseguimos. Do jeito que está podemos resistir por semanas.
– Mas vó…
– Não se preocupa Alex. – Ela diz com voz firme, depois
acrescenta mais cordial. – É mais perigoso para quem está no pé do morro, lá
está tomado. Se não tem como nos sairmos, não tem como você entrar. Além disso,
do jeito que eles andam e se alimentam, em mais algumas semanas não serão mais problema.
– Eu poderia ficar aqui então e esperar…
– Alex, você tem que seguir o plano. Você é meu único neto.
E o único que está realmente em condições de ir para um local seguro. Você me
disse que em Cocais tem cachoeiras e nascentes, lá você vai achar água. É uma
região agrícola, então vai conseguir suprimentos. E como é pouco conhecida
talvez a praga não tenha chegado por lá. Mesmo se tiver chegado é menos
populosa e… – Deixou a voz morrer, depois concluiu– e eu vou me sentir melhor
se pelos menos você se salvar.
Alex sabia que a Avó não queria falar aquilo, toda a
confiança que tentava passar desde o inicio da ligação caiu por terra. Mas ele
preferiu fingir que acreditava.
– Tá certo! Manda um abraço para o pessoal ai. E toma
cuidado. Amanhã eu ligo quando for sair.
– Alex, não ligue mais.
Antes que Alex conseguisse reagir, a ligação é encerrada.
Levará segundos para que ele entendesse e mais alguns para tomar uma
iniciativa. Discou para a avó. Chamou até desligar. Tentou mais uma vez. E
outra vez. Mais uma. Depois parou para racionalizar. Aquilo era uma despedida.
O torpor que seguiu a aquela despedida lhe tirou a fome, e o
sono foi difícil, irregular.
A manhã demora pra chegar.
Alex olha para o telefone e confere a mochila. Água, comida,
facão e machadinha. Na bike ele amarra com arame o cabo da enxada de forma que
fosse fácil retirar numa emergência.
Ele olha para o telefone mais uma vez.
Coloca a mochila nas costas e abre uma fresta na janela.
Espia do lado de fora. Aparentemente não tem ninguém.
Ele olha para o telefone mais uma vez, demoradamente. Abre a porta e procura sinais de movimento. Nada a vista.
O telefone continua a desafia-lo.
Saiu com a bike, está pronto pra iniciar a viagem. Ele olha
mais uma vez para o telefone. Em seu rosto uma expressão séria encarava o
telefone quase que implorando. Seu rosto se torna uma massa aflitiva por alguns
instantes até que suaviza em um sorriso conformado.
Alex desse a rua em silêncio. A bike sem marchas e com eixo
fixo é realmente silenciosa, além do roçar dos pneus no asfalto não se ouve
ruídos.
E no barracão alguns quarteirões atrás um
telefone chama insistentemente
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Bem é isso!
Até!