segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Olá!

Continuando a colocar em pratica o que aprendo com o Podcast Gente que Escreve, e cumprindo o Desafio do Ep. 006 segue o texto incorporando as palavras Janela e chuveiro com tema livre.

Estou com dificuldade para escolher o titulo, mas o texto segue:




        Telefone toca. Depois de tudo é surpreendente que a energia e telefone fixo ainda funcionem. No segundo toque Alex atende.

– Alô.

– Oi Alex.

– Oi vó. Tudo bem – Alex percebe a inutilidade da pergunta quase que imediatamente. Mas não consegui evitar o costume. Sua avó não responde. Após um breve silencio a conversa segue.

– Já terminou os preparativos?

– Já sim.

– O que você conseguiu?

– Algumas garrafas de água, Sardinha e Atum empatado. Achei também dois pacotes de farofa pronta. Na casa da dona Édina tinha umas frutas e um Panetone.

– Isso não é muito.

– Vão durar uns dias – Mais uma pausa. O suspiro pesado da Avó fez Alex continuar – Na casa da dona Édina também achei um fação e uma enxada. E peguei aquela machadinha na garagem.

– Não leva a enxada, e pesada, desajeitada; não da pra usar.

– Tirei a lamina, vou levar só a madeira. É de boa qualidade. Não vai quebrar fácil com o impacto.
Mais um silêncio incômodo.

– Quando você pretende sair? – Por fim a Avó fala.

– Amanhã, assim que o sol nascer.

– Como você vai?

– De bicicleta. Eu vou…

– Como assim? – A avó interrompe – Eles vão atrás de barulho! Assim que você mexer naquelas… coisinhas; irá atrai-los pra você!

– Calma vó, eu tirei as marchas; as coisas que fazem barulho. A bicicleta está bem silenciosa, ontem dei uma volta no quarteirão para testar. – O silencio novamente. Passado alguns momentos. Sem mais objeções da avó Alex continua – Bem, vou sair daqui quando amanhecer. Vou até o Barreiro, ver se acho algum supermercado ou farmácia que ainda não foi roubado…

– “Foram” e “saqueados” – Diz a avó. Ele continua:

– Que ainda não “foram saqueados” – sua voz soou mais sarcástica do que pretendia mas continua –  Depois vou pela Tereza Cristina até a Avenida Amazonas…

– Será que não é melhor passar por alguma rota alternativa, menos populosa?

– Já pensei nisso. Não tem. Como a internet caiu não posso pesquisar rotas alternativas. Acho que é melhor ficar por onde conheço. Posso me perder e acabar preso em algum beco sem saída…

– Tem razão, continua repassando o plano. – Alex é interrompido mais uma vez. Sabendo da natureza objetiva da avó ele prossegue:

– Bem… eh; vou chegar na avenida Amazonas e ver o movimento. Se estiver muito cheio vou continuar na Tereza Cristina até a via expressa. Dependendo do horário vou ver se continuo ou acho algum abrigo…

– É melhor achar um lugar para descansar. Vai ser mais fácil lacrar um quarto no bairro o que uma loja mais no centro.

– Verdade. – Alex responde em tom conciliatório. Nunca adiantou discutir com a avó. E nem considerava fazer isso devido às circunstancias; apenas prosseguiu – Depois vou fazer o possível para chegar na estação Central…

– Não acho que o Metrô esteja funcionado Alex. E mesmo se estiver é barulhento. Vai atrai-los!

– Eu sei vó! Já disse isso. Eu vou seguir os trilhos do trem… Bem, primeiro vou procurar água e comida. Depois vou seguir os trilhos do trem. Vou até a estação Dois Irmãos. Fica perto de Barão de Cocais. De lá vou para Cocais.

– Ótimo.

        Um breve silencio.

– Vô, como está o pessoal aí?

– Tudo bem, seu tio esta consertando o chuveiro. E suas tias fazendo o jantar. Só a Samanta que está meio triste.

– Ela ainda esta esperando?

– Ela não sai da janela, foi a única aluna que ficou na escola. – um breve suspiro desanimado –   Ninguém veio por ela. – E mais uma vez o silencio se instala. Depois a Avô continua. – Agora Alex, confira que as portas e janelas estão bem trancadas, dorme um pouco que amanhã será um longo dia! Quando estiver andando não se esqueça de ser o mais silencioso possível especialmente na cidade, e não confie em ninguém! Beba água, mas lembre-se que tem que economizar ao máximo. Assim como com a comida.

       Mas um silêncio. Este dura mais que os outros.

– Vô; dá pra mim ir praí…

        Outro silencio. Seguido por uma voz estranhamente animada do outro lado da linha:

– Alex, não precisa. A comunidade sempre se apoia. Os Traficantes e a milícia finalmente estão se dando bem. Estão defendendo o alto do morro. E mesmo que tudo em volta esteja tomado, munição é o que não falta pra eles. E também estou ajudando a Matilde controlando os mantimentos que conseguimos. Do jeito que está podemos resistir por semanas.

– Mas vó…

– Não se preocupa Alex. – Ela diz com voz firme, depois acrescenta mais cordial. – É mais perigoso para quem está no pé do morro, lá está tomado. Se não tem como nos sairmos, não tem como você entrar. Além disso, do jeito que eles andam e se alimentam, em mais algumas semanas não serão mais problema.

– Eu poderia ficar aqui então e esperar…

– Alex, você tem que seguir o plano. Você é meu único neto. E o único que está realmente em condições de ir para um local seguro. Você me disse que em Cocais tem cachoeiras e nascentes, lá você vai achar água. É uma região agrícola, então vai conseguir suprimentos. E como é pouco conhecida talvez a praga não tenha chegado por lá. Mesmo se tiver chegado é menos populosa e… – Deixou a voz morrer, depois concluiu– e eu vou me sentir melhor se pelos menos você se salvar.
Alex sabia que a Avó não queria falar aquilo, toda a confiança que tentava passar desde o inicio da ligação caiu por terra. Mas ele preferiu fingir que acreditava.

– Tá certo! Manda um abraço para o pessoal ai. E toma cuidado. Amanhã eu ligo quando for sair.

– Alex, não ligue mais.

     Antes que Alex conseguisse reagir, a ligação é encerrada. Levará segundos para que ele entendesse e mais alguns para tomar uma iniciativa. Discou para a avó. Chamou até desligar. Tentou mais uma vez. E outra vez. Mais uma. Depois parou para racionalizar. Aquilo era uma despedida.
O torpor que seguiu a aquela despedida lhe tirou a fome, e o sono foi difícil, irregular.


        A manhã demora pra chegar.


      Alex olha para o telefone e confere a mochila. Água, comida, facão e machadinha. Na bike ele amarra com arame o cabo da enxada de forma que fosse fácil retirar numa emergência.

      Ele olha para o telefone mais uma vez.

      Coloca a mochila nas costas e abre uma fresta na janela. Espia do lado de fora. Aparentemente não tem ninguém.

    Ele olha para o telefone mais uma vez, demoradamente. Abre a porta e procura sinais de movimento. Nada a vista.

       O telefone continua a desafia-lo.

       Saiu com a bike, está pronto pra iniciar a viagem. Ele olha mais uma vez para o telefone. Em seu rosto uma expressão séria encarava o telefone quase que implorando. Seu rosto se torna uma massa aflitiva por alguns instantes até que suaviza em um sorriso conformado.

      Alex desse a rua em silêncio. A bike sem marchas e com eixo fixo é realmente silenciosa, além do roçar dos pneus no asfalto não se ouve ruídos.



        E no barracão alguns quarteirões atrás um telefone chama insistentemente

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Bem é isso!
Até!